A escrita sempre fez parte de mim,
é verdade. Já quando era miúda escrevia numa agenda oferecida pelo meu pai. Era
rectangular, tinha argolas e na divisão dos meses tinha umas riscas coloridas.
Quando chegava a casa da escola, ou depois do jantar retirava-a da gaveta e escrevia
o que me tinha acontecido nesse dia. Não era um diário. Eu nunca gostei muito
de descrever nem definir os meus dias. Eram apenas breves desabafos. Quando
somos miúdos temos sempre a ideia que já sabemos e sentimos tudo. Vivemos de
extremos. E eu escrevia sobre isso. Escrevia sobre o que sentia, sobre as
emoções, sobre o meu lado mais racional.
É curioso pensar que sempre
escrevi em agendas. Fascina-me o facto de nunca as ter usado para o seu
verdadeiro fim. Mas não é isso que está aqui em causa. Quando ainda era miúda, comecei
a guiar-me mais pela lógica. Logicamente escrevia sobre o que sentia, mas
escrevia sobre a lógica dos acontecimentos e a reacção. A causa e o efeito. E o
que influenciava em mim. Li aqui há tempos um desses textos. De 2007 penso. Não
é muito antigo, mas também não é muito recente. Consegui perfeitamente
encontrar a causa, o efeito e a solução. Mas os sentimentos na altura eram
diferentes e a maneira com que se via a vida também. Era simples, vivia-se do
básico. Estava-se feliz com o que se conhecia. Nessa altura eu dizia que tinha
razões para escrever e que o que sentia deveria ser marcado numa folha da
agenda. Não tinha na realidade. O que eu sentia não tinha razões, era descomplicado,
leve e tranquilo. A verdade é que eu tinha sede de sentir algo forte, que me
elevasse até ao extremo. Alguma tinta que pudesse chorar pelo bico da caneta.
Mas eu era ingénua e não sabia o que era sentir de verdade.
Sempre escrevi para mim e para estar
bem. Percebi que a escrita era um refúgio. Era um cantinho pequenino e
acolhedor á meia-luz silencioso. Nessa altura eu já sabia quase o que era
sentir. E a minha vontade era de sozinha, pegar e trabalhar qualquer um dos pequenos
extremos da minha vida. Molda-los, carimba-los e fazer deles sentimentos
verdadeiramente grandiosos, que valessem apena escrever. Mas existia o quase, e
eu ainda não sabia o que era a força de sentir de verdade.
Nunca fui muito boa a lidar com
as palavras oralmente. E por isso sempre escrevi. Não é que a escrever eu me
entenda melhor com elas, mas pelo menos saem no tom que eu quero. E é assim que
tem de ser. Recentemente deixei a agenda. Deixei a caneta. Continuo a escrever
na mesma, mas de maneira diferente. A agenda já não encaixa. A caneta chora
tinta de mais pelo bico. E não é por vontade de escrever. É por ter necessidade.
E depois de tantos anos a querer
escrever sobre extremismos, hoje eu peço para não ter mais necessidade
escrever. Porque tenho a prova viva de que a escrita me afasta sempre de tudo. Já
sei o que é sentir.
Fazes bem em escrever, porque as pessoas precisam de deitar para fora o que sentem, o que pensam. Há quem o faça oralmente, há quem escreve letras de músicas e há quem escreva só porque lhe faz bem á alma. Se não te conseguires expressar de nenhuma forma é muito pior porque mais tarde ou mais cedo acabas por explodir.
ResponderEliminarPor isso escreve ou na agenda, ou no blog, ou num guardanapo. Se te apetece, só o deves fazer :)
Escrever é puxar por mim. Faz-me bem e mal ao mesmo tempo. Um dia ainda vou aprender a lidar com isto da melhor maneira, e aprender a retirar só as melhores vantagens. Beijinho Drica*
ResponderEliminarO que escreveste é tãooo verdade...
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