Longe é um Bom lugar.

07 setembro 2011

Mais uma razão para não escrever


A escrita sempre fez parte de mim, é verdade. Já quando era miúda escrevia numa agenda oferecida pelo meu pai. Era rectangular, tinha argolas e na divisão dos meses tinha umas riscas coloridas. Quando chegava a casa da escola, ou depois do jantar retirava-a da gaveta e escrevia o que me tinha acontecido nesse dia. Não era um diário. Eu nunca gostei muito de descrever nem definir os meus dias. Eram apenas breves desabafos. Quando somos miúdos temos sempre a ideia que já sabemos e sentimos tudo. Vivemos de extremos. E eu escrevia sobre isso. Escrevia sobre o que sentia, sobre as emoções, sobre o meu lado mais racional.
É curioso pensar que sempre escrevi em agendas. Fascina-me o facto de nunca as ter usado para o seu verdadeiro fim. Mas não é isso que está aqui em causa. Quando ainda era miúda, comecei a guiar-me mais pela lógica. Logicamente escrevia sobre o que sentia, mas escrevia sobre a lógica dos acontecimentos e a reacção. A causa e o efeito. E o que influenciava em mim. Li aqui há tempos um desses textos. De 2007 penso. Não é muito antigo, mas também não é muito recente. Consegui perfeitamente encontrar a causa, o efeito e a solução. Mas os sentimentos na altura eram diferentes e a maneira com que se via a vida também. Era simples, vivia-se do básico. Estava-se feliz com o que se conhecia. Nessa altura eu dizia que tinha razões para escrever e que o que sentia deveria ser marcado numa folha da agenda. Não tinha na realidade. O que eu sentia não tinha razões, era descomplicado, leve e tranquilo. A verdade é que eu tinha sede de sentir algo forte, que me elevasse até ao extremo. Alguma tinta que pudesse chorar pelo bico da caneta. Mas eu era ingénua e não sabia o que era sentir de verdade.
Sempre escrevi para mim e para estar bem. Percebi que a escrita era um refúgio. Era um cantinho pequenino e acolhedor á meia-luz silencioso. Nessa altura eu já sabia quase o que era sentir. E a minha vontade era de sozinha, pegar e trabalhar qualquer um dos pequenos extremos da minha vida. Molda-los, carimba-los e fazer deles sentimentos verdadeiramente grandiosos, que valessem apena escrever. Mas existia o quase, e eu ainda não sabia o que era a força de sentir de verdade.
Nunca fui muito boa a lidar com as palavras oralmente. E por isso sempre escrevi. Não é que a escrever eu me entenda melhor com elas, mas pelo menos saem no tom que eu quero. E é assim que tem de ser. Recentemente deixei a agenda. Deixei a caneta. Continuo a escrever na mesma, mas de maneira diferente. A agenda já não encaixa. A caneta chora tinta de mais pelo bico. E não é por vontade de escrever. É por ter necessidade.
E depois de tantos anos a querer escrever sobre extremismos, hoje eu peço para não ter mais necessidade escrever. Porque tenho a prova viva de que a escrita me afasta sempre de tudo. Já sei o que é sentir.

3 comentários:

  1. Fazes bem em escrever, porque as pessoas precisam de deitar para fora o que sentem, o que pensam. Há quem o faça oralmente, há quem escreve letras de músicas e há quem escreva só porque lhe faz bem á alma. Se não te conseguires expressar de nenhuma forma é muito pior porque mais tarde ou mais cedo acabas por explodir.
    Por isso escreve ou na agenda, ou no blog, ou num guardanapo. Se te apetece, só o deves fazer :)

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  2. Escrever é puxar por mim. Faz-me bem e mal ao mesmo tempo. Um dia ainda vou aprender a lidar com isto da melhor maneira, e aprender a retirar só as melhores vantagens. Beijinho Drica*

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  3. O que escreveste é tãooo verdade...

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